domingo, 19 de junho de 2011


Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino 
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessiva gerações de príncipes 
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição 
Solitária exilada sem destino

Sophia de Mello Breyner Andressen

Foto: Braga 2011
Fuji Finepix Z